ENSAIO DE SIMON WATSON

UMA VISITA AO ESTÚDIO

Minha primeira visita ao studio de Denise Milan em São Paulo foi um tanto formal. O objetivo era ver as esculturas de Milan e conhecer suas instalações, assim como examinar inúmeros catálogos de exposições anteriores. Foi durante uma visita que se seguiu que eu desenterrei um tesouro de caixas cheias até o topo, de centenas e centenas de fotografias e colagens que ela vinha fazendo há mais de quinze anos, durante estadas em Paraty, na Bahia, assim como no studio. As fotografias eram de pessoas, paisagens, geodos, as quais, do meu ponto de vista, expressam sua preocupação artística sobre a relação particular entre cultura e paisagem no Brasil.

Depois passei a conhecer Denise melhor e descobri que ela nunca está sem sua câmera, sempre documentando o que vê, e sempre fazendo fotocolagens - isso tudo costumava acabar nessas caixas, nunca expostas às luzes de uma exposição. Foi a descoberta desse grande tesouro de obras anteriormente desconhecidas que se tornou em “Denise Milan: Fumaça da Terra”, um projeto conceitual abrangente, uma exposição itinerante de cento e três trabalhos, vistos pela primeira vez nos Estados Unidos no Chicago Cultural Center em 2012 e que agora chega em São Paulo em uma forma mais aprimorada.

A apresentação da Galeria Virgílio de “Denise Milan: Fumaça da Terra”contém trinta e três impressões em fotografia ricamente saturadas de cor baseadas na prática contínua da artista em fotocolagem e oferece uma jornada visual cativante. Trabalhando em uma tradição profundamente humanística como artista há mais de vinte anos e como ativista em ecologia e em arte educação, Milan tem realizado esculturas, fotografias, e performances que expressam ativamente suas experiências convivendo e entrevistando pessoas dos vilarejos no litoral de Paraty e das terras secas desoladas do nordeste brasileiro. “Fumaça da Terra” é a culminação dessa experiência e personificação das preocupações contínuas da artista: um testamento para um legado problemático da colonização, da escravidão de povos africanos e indígenas, e da devastação de regiões inteiras, assim como uma homenagem ao lado mais positivo da vida do Brasil, sua beleza e espírito elevado. Portanto “Fumaça da Terra” testemunha as tragédias das depredações da humanidade, assim como introduz o poder de resgate e um espaço de recuperação.

 

Simon Watson é curador, crítico e consultor de arte independente, baseado em Nova York e São Paulo. Veterano da cena de arte contemporânea mundial, Watson foi curador de mais de 200 exposições e consultor em coleções de arte para galerias, museus e outras instituições, e para colecionadores particulares. Colaborador na DasArtes, Huffington Post, XOP e Whitewall.