PROCESSO

Denise Milan

Améfrica, um continente escultórico, celebra o processo de criação da Natureza, focando o movimento das massas continentais antes e depois do aparecimento da civilização. Trata-se da convocação de pedras do subsolo brasileiro, que se reúnem no solo de Brasília e nos reenviam às origens. As pedras trazem à tona uma força colossal, às vezes conhecida, outras esquecida, das matrizes subterrâneas. E deixam para as próximas gerações um registro dos vestígios arcaicos e futuros da Terra.

Ao observar a pedra até chegar ao seu microcosmo, descobrimos a cela do cristal (nome científico da unidade fundamental cristalina, presente em grande parte das pedras do universo), aqui retratada como Célula Fundamental do Processo Criativo.

Ela conceitua Améfrica, que, alinhada com o eixo geográfico de Brasília, inverte-o apontando um novo rumo para o Brasil.

Améfrica expressa-se em alegorias cenográficas que relatam um fenômeno geológico com instantes de dramaticidade e fertilidade da Terra e presentifica um momento onde os continentes se uniram para formar uma única nação. Em Améfrica, os lados que estavam separados contemplam o nascimento de uma consciência fortalecida. Ergue-se a coluna vertebral da Terra, elevando-se dos subterrâneos oceânicos, e traz, para o olhar de todos, a visão de semelhanças existentes entre a natureza da Terra e a natureza do Homem. Abre-se um diálogo entre ambas, propõe-se um passo para a evolução da natureza humana.

Ao sul do continente escultórico encontramos os fragmentos da cordilheira mesoatlântica um dia submersa, suas massas vulcânicas que configuraram toda uma nova expressão da matéria, os basaltos e as ametistas.

A ala das Estrelas de Silício nos Fragmentos da Noite Basáltica nos ensina algo sobre a germinação no reino mineral cósmico e artístico. As ametistas, incrustadas no basalto toleítico, são o abre-alas da grande peregrinação desta civilização de pedras, simbolizando os momentos de fecundação dos embriões celestiais.

Ao norte, o Vulcanismo Sideral divide e reordena a matéria terrestre e nos mostra o processo de reintegração da África e da América.

A estrutura da matéria já se configurou, suas partes estão definidas, são elevações que se assemelham a tetraedros de basalto, deixando no ar a insinuação de um fim e outros inícios.

Na ala central, como cena batismal, temos, entre outros, O Ovo de Pedra Azul, que, com seu olhar visionário, aproxima os continentes. Sua proposta é orientar os homens para uma reintegração com as origens, de forma que ele possa viver de acordo com as condições de sua natureza.

Não se trata de um estado pré-civilizatório, de pureza, mas, sim, de uma reconquista desse estado primevo, onde instintos, sentimentos, sentidos, intuições, aspirações, sensações, estão latentes e borbulham. Há um momento posterior ao surgimento da civilização ocidental, no qual os modos de ser que nos guiavam foram detectados e descartados, humilhando-o.

O fortalecimento da razão de ser da humanidade no nosso planeta, que germina neste ovo, não ignora os caminhos que a civilização nos fez percorrer. Parte do conhecimento delas, sabe como lidar com o esquecimento e renasce como embrião de uma outra possibilidade de existir na Terra.