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orDeNAção - DNA da pedra

 

Ensaio de Marcello Dantas para a exposição orDeNAção na Galeria Lume, 2018

O Caos é a ordem que não entendemos. Através dos tempos artistas se apropriaram dos métodos e sistemas das ciências para construir uma estética. Seja a Biologia, a Física, a ótica ou a Anatomia, a capacidade de cientistas sistematizarem algo sempre flertou com o interesse em colocar alguma ordem em sua liberdade criativa.

Uma matéria que moldou a obra de Denise Milan foi a Geologia. Entender a origem e a mensagem das pedras sempre foi objeto de sua obsessão em quase 40 anos de carreira. Sua obra buscou revelar coisas a respeito das pedras que vão além do que os olhos podem ver.

Nessa exposição a sua metodologia se revela mais complexa e se apresenta como linguagem. Aqui não são mais a pedras puras que se impõe, mas sim sua cosmogonia, a relação entre os valores simbólicos que ela atribuiu e sua combinação criando novos lugares para que um banquete mineral pudesse ser servido. Ordenação é a forma de atribuir um método poético a algo que não pode ser entendido com a razão. Quando as coisas não dispõem mais de sentido, para não sucumbirmos a loucura, criamos o método. (Though this be madness, there is method in it, - Embora isso seja loucura, há um método nisso - dizia Polonius para Hamlet). Esse método classifica, relaciona, categoriza e narra aquilo que a artista enxerga na riqueza da matéria mineral. Cada classificação abre uma nova narrativa e uma situação se apresenta. A cada olho, mesa, mapa, coluna, o mineral surge em uma nova sequência, ordem ou atribuição.

Como Carl Sagan disse: “O nitrogênio em nosso DNA, o cálcio em nossos dentes, o ferro em nosso sangue, o carbono em nossas tortas de maçã foram feitos no interior das estrelas em colapso. Somos feitos de estrelas.” O trabalho mais ambicioso dessa exposição foi criar um alfabeto mineral, onde signos de sentimentos humanos são associados a formas geométricas e códigos gráficos. Esse sistema de encontrar espelhamento do que somos num método que permite nos reconhecermos na abstração da pedra é de uma rara capacidade de síntese. Ao dar vida, intenção e memória, Denise Milan sequencia uma espécie de DNA da Pedra.

 

Marcello Dantas (Rio de Janeiro, 1968), diretor artístico, curador e produtor em diversos projetos relacionados a Arte e Tecnologia, no Brasil e internacionalmente. Curador das exposições: Bill Viola, Gary Hill, Jenny Holzer, Shirin Neshat, Tunga, Laura Vinci e Ai Wei Wei. Produtor das exposições de: 50 Years of TV and More, Anos Luz (Light Years – 100 years of Cinema), CineCaverna (A Travel through Brazilian Pre-History), Resonâncias de Brasil, entre outras. Também foi diretor de óperas como Peter Greenaway and La Fura dels Baus. Foi diretor artístico do Museu da Língua Portuguesa entre 2001 e 2006. Em 2006 inaugurou uma exposição sobre a vida do jogador de futebol Pelé, em Berlin durante a copa do mundo. Curador e diretor de planejamento da Japan House em 2017. Em mais de 30 anos de carreira, realizou mais de 250 exposições, concebeu 15 museus e diversos documentários.