SÃO PAULO UMA URBE CRISTALINA

Haroldo de Campos, poeta concretista

Haroldo de Campos, poeta concretista

ENSAIO DE HAROLDO DE CAMPOS

 

Eu acho muito interessante essa dupla escala de trabalho de Denise Milan, desde a escultura, às vezes de uma mini escultura até o trabalho monumental no espaço público, onde é coautora com Ary Perez. Isso me parece uma atitude muito moderna da Denise e que tem a ver com a recepção do objeto de arte.
Primeiro é uma arte de luz, tem muito a ver com as transparências, a estrutura cristalina já é uma joia da natureza, é uma coisa espantosa como a natureza vai criando aquelas formas geométricas, a gente vê muitas vezes com o que parece, o construtivismo artístico parece o último estágio de um trabalho de invenção extremamente requintado da modernidade, na verdade ele tem muito a ver com formas naturais, com estruturas naturais que se encontram na rocha e a Denise soube utilizar muito bem isso. Ela desmobilizou aquelas estruturas do seu cenário natural e as projetou com uma sensibilidade trazendo outros enfoques, utilizando recursos de iluminação, criando cenários e intervindo de uma maneira extremamente criativa para acrescer em termos de informação estética, aquele dado da natureza que já era esplêndido em si mesmo, que ela recebe um presente brasileiro para uma artista de tanta sensibilidade.

 

Haroldo de Campos, (1929 – 2003) poeta, tradutor e ensaísta. Lançou o movimento de poesia concreta em 1956. Formou-se em direito pela Universidade de São Paulo em 1952, mesmo ano em que fundava, com Augusto de Campos e Décio Pignatari, o Grupo Noigandres, de poesia concretista. Desde 1950, publicou mais de 30 livros, como "A Máquina do Mundo Repensada". Vencedor do prêmio Jabuti em 1991, 1993, 1994, 1999 e 2002.